quinta-feira, julho 05, 2012

~ Meu irmão, minha inspiração.



Tantos anos se passaram, hoje sou casado, tenho dois lindos filhos, mas nunca esqueci minhas raízes, nem aqueles que sempre cuidaram de mim. Quando penso nos anos que morei próximo ao farol da Enseada é como se eu voltasse a ser aquele garotinho de 12 anos, em pé no píer, olhando o pôr do sol ao lado do meu irmão. Sabe o que é mais engraçado? Naquela época parecia que aqueles dias jamais acabariam, que ficaríamos ali para sempre, com aqueles barcos, com aquela vista.

Sempre conto a meus filhos como era minha relação com o tio deles e, lamento-me todos os dias por eles não terem nascido a tempo de conhecê-lo. Eu tinha 17 anos quando tudo aconteceu, eu o importunei para me levar a um show do Fall Out Boy e, ele mesmo cansado do trabalho foi comigo. Na volta, eu cantava, na verdade gritava, a letra da minha música preferida da banda e ele apenas pedia que eu parasse de bater os pés do volante e eu, como um belo adolescente não o fiz, resultado: Batemos em um poste e rodamos em plena rodovia, até que o carro entrou em um supermercado; acordei 3 dias depois em um hospital e meu irmão foi direto para um cemitério.

Quando eu pensei que dali para frente minha vida seria apenas lamúrias, o carteio trouxe para mim uma carta de admissão na faculdade de mecânica para veleiros, de cara eu não entendi o que aquilo queria dizer, até porque não havia me inscrito em faculdade alguma então, minha mãe sentou-se ao meu lado e disse “Seu irmão havia mandado sua inscrição e você foi aprovado.”. As palavras da minha mãe me fizeram chorar deitado em seu colo, meu pai nos abraçou e permanecemos assim até que eu finalmente dormisse.

Devo lhes contar que, alguns anos depois, casei-me na igreja do outro lado da rua do píer e, quando sai de dentro dela, devidamente casado e explodindo de felicidade, pude ver uma pessoa de pé a olhar o pôr do sol, assim como eu fazia quando pequeno, até que essa pessoa olhou para trás e sorriu para mim, foi nesse momento que percebi que quem estava ali era o meu irmão. Pedi a minha espoja que esperasse 5 segundos enquanto eu ia matar a saudade da brisa do mar, e segui para onde meu irmão estava.

- Oi irmãozinho. – Disse-me ele.
- Veio ver se eu estava fazendo tudo certo foi? – Perguntei-lhe sorrindo.
- Claro, sou seu irmão mais velho cara. – Ele me respondeu.
- Sinto tanto sua falta, queria que você fosse meu padrinho hoje, que estivesse lá. – Eu lhe disse, me segurando para não chorar.
- Ei cara, eu estava lá, eu sempre estarei em seu coração. – Ele me respondeu sorrindo.
- Mas são é a mesma coisa. – Disse-lhe.
- Não, não é, mais é melhor do que não poder ver o homem e, o pai de família que você será. – Respondeu-me ele.
- Para onde você vai agora? – Perguntei-lhe.
- Bom, vou voltar para o pôr do sol e, a cada vez que você e meus futuros sobrinhos vierem aqui saberão que estarão me vendo. – Respondeu-me ele.

Antes que eu pudesse dizer adeus meu irmão partiu, porém eu sabia, que no meio da euforia aquele alguém me protegia, que independente de onde estivesse seria sempre meu irmão, meu abrigo, que nunca me deixaria desistir dos meus sonhos e que a cada pôr do sol que eu visse, ele estaria sorrindo para mim. Passei cerca de 1 minuto olhando aquele lugar e hoje, volto aqui com meus filhos para ver as embarcações que um dia admirei, que hoje construo e que meu irmão protege.

Pauta para o Bloínquês
+ 125ª edição musical

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