Você tem um minuto caro leitor?
Eu preciso contar minha história, aproveitar que estou a sós com vocês e dizer
como, nos últimos meses, minha torre tem desmoronado completamente, sem que eu
possa fazer nada para que ela permaneça de pé. Meus amigos estão na beira da
praia ficando tão drogados, meus pais estão separados nos cômodos da minha casa
bebendo feito malucos, meu irmão está trancado em seu quarto, ocupado com seus
jogos de play station e quanto a mim? Bom, estou sentada no velho gramado, que
um dia foi verde, olhando a alameda dos sonhos perdidos. Sabe leitor, posso
chamá-lo de amigo? Sabe meu amigo, eu costumava adorar essa cidade, cada
estabelecimento e cada casa aqui presentes, mais agora eu não passo de uma
destruidora, iludida e escorraçada menina. Antes de tudo isso acontecer eu
tinha uma vida, alguns abrigos e uma casa, eu tinha o mais importante, o sopro
da alegria, mas eu me tornei uma especialista em desculpas e, sem perceber,
cada uma delas tinha um buraco enorme. Quando olho para trás vejo o tamanho de
cada cicatriz que causei, sei que todos estão tentando esquecer de tudo, de
mim, mesmo que da pior maneira possível. Eu tento voltar atrás, só que eu não
fui treinada para fazer isso, na verdade meu amigo, quem é treinado para a vida
não é verdade? Hoje, essa noite, serei apenas o que sou, jovem, podendo errar
agora, para lá na frente dizer com plena exatidão o caminho que quero tomar, o
que serei e quem me tornarei. Hoje, nessa noite, vou me sentar na mesa deste
bar e fazer o que todos estão querendo ver, afundar em copos de bebidas e
coisas sutis. Hoje, apenas essa noite, quando o bar fechar não terei que voltar
para casa, pois sou jovem, sem passado concreto, sem futuro previsto, vou viver
ao meu tempo e espaço. Hoje, essa noite, quando o bar fechar, quando os meus
pais estiverem se reconciliando e preparando-se para dormir, quando meu irmão
desligar seu mundo virtual, quando meus amigos ficarem tão chapados a ponto de
dormirem na areia da praia, eu estarei sendo jovem!
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