quinta-feira, agosto 11, 2011

~ Menina selvagem.


Quando pequena, eu costumava dizer que queria crescer como uma menina selvagem, estar sempre em lugares diferentes e nunca sozinha. Escondia-me no barco do meu velho pai toda vez que percebia que ele iria sair para pescar, entretanto ele sempre me descobria e me colocava de volta na areia dizendo “Eu vou voltar filha, eu já deixei de voltar para você?”, eu sempre ficava chorando dando adeus a ele imaginando as aventuras que ele viveria naquelas águas e os lugares lindos que ele iria visitar. Nas manhãs em que meu pai não estava em casa eu sempre ajudava minha mãe na pequena barraca vendendo as redes que ela confeccionava, mais assim que conseguia, fugia para ficar sentada a beira do mar esperando ver meu pai chegar de além mar.

Hoje tenho dezoito anos e, não tenho mais meu velho pai, mais ainda tenho suas últimas palavras em minha mente “Filha, pegue meu pequeno barquinho e vá conhecer o mar, as praias, os peixes, vá ser essa menina selvagem que sempre sonhou.”, delas eu nunca mais me esquecerei. Infelizmente minha mãe já não tem mais idade para me acompanhar então, eu vou sozinha, ou melhor, vou eu e os olhos do meu velho pai. Entrei no barco e peguei os remos, remei e remei até não agüentar mais nem consegui enxergar mais nada, estava tudo escuro, tudo negro, o que me restava era colocar a mão nos olhos e dormir.

Finalmente a manhã clareou, abri os olhos sem retirar as mãos de cima deles, meu pequeno pano vermelho, o qual usei para me cobrir estava todo dobrado, aglomerado no meu quadril, quando finalmente tomei coragem para descobrir os olhos e observar ao meu redor, admirei-me com o que pude notar, que lugar bonito, com montanhas verdes, o sol vivo, a água brilhante e todo um mistério a ser descoberto, a ser descoberto por uma menina selvagem, por uma menina sonhadora, por uma mulher lutadora.

- Pauta para o Bloínquês

~ 81ª edição visual.

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