~ Era um bom lugar para se viver.

Quando jovem queria sair dessa cidade, queria tentar a vida em uma cidade maior, e é engraçado como estou nesse metrô agora voltando para Forks. "Próxima parada, cidade de Forks", anucionou o maquinista ao nos aproximarmos da cidade mais chuvosa que eu já conheci em todos esses anos de vida, assim que o metrô parou, desci quase descrente por estar novamente ali, mesmo que por um motivo tão trágico como o que havia me arrastado até aqui. Respirei o ar frio da pequena cidade coberta por uma quase constante camada de chuva e tomei coragem para andar em frente, notando que nem tudo havia mudado por aqui, o senhor Fords ainda trabalhava na bilheteria da estação, a senhora Cail estava a fofocar em sua cantina de lanches, é pelo menos aparentemente Forks seria sempre a mesma cidadezinha pacata onde eu vivi. Pela falta de ônibus que circulasse na cidade, esperei meu pai vir me buscar na porta da estação ferroviária.

- Lizza, entre. - Disse ele ao chegar abrindo a porta de sua caminhonete.
- Oi pai. - Respondi já dentro do carro.
- Quanto tempo você não vem até Forks. - Disse ele dando a partida no carro.
- É, quanto tempo. - Respondi fechando a porta.

Percorremos nosso caminho em um silêncio profundo, e foi melhor, até porque eu não estava entusiasmada com nada disso. Rua 15, nº 27, essa era minha antiga casa, agora repleta de vizinhos, entre eles Mark, Isabella e Steve, meus velhos amigos e assim como eu, em seus trinta anos de idade.

- Lizza, lamento nos encontrarmos em uma sitação chata. - Me abraçava Isabella.
- Não, tudo bem, quer dizer, realmente. - Me corrigi dando uns tapinhas em suas costas - Só estou aqui pela única coisa que me importava e me ligava a este lugar, meu irmão Paul.
- Estavamos com ele na picape quando tudo aconteceu. - Disse Steve.

Mark contou-me todo o acidente, desde a derrapada da picape azul do meu irmão até a batida com a caminhonete de carga da lanchonete Dina's House. Não consegui me controlar com toda a revelação que me foi feita, Paul sempre me apoiou em tudo e agora eu me encontrava diante do seu corpo flácido e gelado, em seu enterro.

- Vamos dar uma volta. - Disse Mark passando o braço sobre meus ombros.

Fora da minha casa tinha um furgão preto estacionado, era de Mark, fui a primeira a entrar e logo em seguida vinheram Isabella e Steve, Mark por sua vez, posicionou-se ao volante.

- Para onde co-pilota? - Perguntou Mark como antigamente.
- La Push. - Respondi sem olhá-lo.
- Apertem os cintos pessoal, destino La Push. - Disse Mark, como falava em nossa época de dezesseis anos.

Uma hora e meia de viagem e estavamos na praia de La Push, pude colocar meus pés na água gelada e salgada, e como um flash lembrei dos meus doze anos, a primiera vez que o Paul me trouxe aqui...

" - Vamos Lizz, vem nadar. - Chamava Paul.
- Mas ta gelada. - Respondi
- Bora sua molenga. - Dizia ele sorrindo.
- Você diz isso porque tem quatorze anos. - Respondi emburrada"

Fechei meus olhos, como costumava fazer ao lado do Paul, e abri os braços para sentir o vento soprar, era como o abraço do meu irmão, leve e acolhedor...

- Saudades? - Perguntava Steve.
- Sim, lembrei do Paul. - Respondi ainda de olhos fechados.
- Seu irmão a amava. - Disse Mark logo atrás de mim.
- Eu também o amava. - Respondi ainda imóvel.
- Para onde vamos agora? - Perguntou Mark
- Hum... Katy's Bikes. - Respondi.

Katy's Baikes, era uma loja para aluguel de bicicletas de passeio, fui ali no máximo umas três vezes com Mark, mas agora pude ver que a loja ainda tinha o mesmo aspecto, as bicicletas na frente da entrada, as janelas de vidro que davam para a rua, os pequenos tijolinhos que compunham a faixada da frente da loja e aquele aspecto de loja familiar. Quando entramos na loja, ouvi o sininho pendurado na porta da loja para avisar a dona Katy quando chegava clientela, aquele velho sininho que só a loja da Katy tinha, dessa vez o som daquele sininho me trouxe uma lembrança do Paul...

" - Está ouvindo Lizz? - Perguntava Paul.
- Vamos Paul, pare com essa brincadeira, tenho dezoito anos já. - Respondi ainda andando.
- Ora Lizz, é o som do sininho da Katy's Bikes, vamos alugar uma? - Perguntava ele com aquele olhar de pidão que só ele tinha.
- Certo, certo, você ganhou essa. - Respondi voltando para seu lado.
- Essa é minha garota. - Dizia ele me abraçando fortemente."

Quando retornei a realidade, Isabella me sacudia dizendo que o enterro do meu irmão já se encontrava no Cemitério Central de Forks, saímos em disparada da Katy's Bikes a caminho do furgão de Mark, levamos trinta minutos da loja até o cemitério, ao me ver o padre passou a palavra...

- Bom, eu estava andando pela cidade, visitando os lugares para onde Paul me levava quando moravamos juntos aqui em Forks. - Fiz uma pequena pausa para respirar. - E cada lugarzinho me trouxe recordações da pessoa boa que ele sempre foi com todos nós. Paul me ajudou quando não passei no primeiro provão que fiz para entrar na faculdade de medicina de Phenix, ele me fez largar os livros e ir me divertir no show do Bon Jovi com ele, eu o achei maluco na época, mas esse foi um dos melhores dias da minha vida, ele também me acolhia quando eu não conseguia dormir com pesadelos, como foi quando nos mudamos para a casa que meus pais moram até hoje... - Fiz uma pausa um tanto maior dessa vez. - Paul era o tipo de irmão que qualquer um sonharia em ter, eu o amo muito, seja lá onde estiver agora, mas sei que ele está torcendo por nós e nos guardando sempre. - Parei de falar para o público que me olhava e dirigi meu olhar para o caixão de Paul. - Meu irmão, me desculpe por só ter descoberto agora o que você sempre tentou me mostrar, que Forks era um bom lugar para se viver, eu sempre vou amar você Paul. - Falei chorando.

Como eu já imaginava, Mark, Isabella e Steve me afastaram do caixão, que agora estava sendo, literalmente, colocado sob a terra gelada de Forks, todos choravam, porém ninguém mais do que eu, pois a maior perda era a minha, a perda de um irmão, a perda da razão da minha vida.

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